INFORMAÇÃO NÃO GERA CONHECIMENTO

28-10-2010 13:48
Informação não gera conhecimento: A internet e sua influência no desenvolvimento da personalidade e do intelecto da criança e do adolescente

 

                É unânime em nossa sociedade constatar e identificar as influências que a internet teve sobre nossas vidas. Bastaram 50 anos para que nossa estrutura tecnológica gestasse esta rede de comunicação global. Sendo a comunicação o principal processo humano de transmissão do conhecimento além de ser o patamar de formação de nosso intelecto e personalidade, recebeu da tecnologia da informação e comunicação influências  extremamente negativas e efeitos devastadores na formação da intelectualidade e da personalidade das crianças e adolescentes da segunda metade do século XX.

                É fato que as crianças  estão sendo expostas, cada vez mais cedo, a um vasto conteúdo de informação, através dos meios de comunicação, iniciando-se  pelo conteúdo televisivo e também pela informática. Esta realidade é pungente e exigiu que o meio educacional se reformulasse. Através da influência de Piaget e seu construtivismo[1], o matemático Sul africano Saymour Papert[2] “cunhou o termo construcionismo como sendo a abordagem do construtivismo que permite ao educando construir o seu próprio conhecimento por intermédio de alguma ferramenta, como o computador, por exemplo.”[3]

                Mas construir o seu próprio conhecimento pressupõe uma personalidade formada fundamentada no questionamento de valores éticos e morais que estão além da tecnologia. Seria lícito expor às crianças a tão vasta informação sem  este preparo que só se constrói através das relações humanas? Teria a tecnologia a possibilidade de formar o indivíduo através do princípio lúdico, fator primordial da formação da personalidade? Atualmente, isso ainda não é possível.

                Este ponto fica evidenciado através de uma análise, ainda que superficial, sobre a primeira geração exposta sem controle adequado ao ambiente da internet. Vemos que as crianças e adolescentes tem menos amigos, encontram-se menos e, quando se encontram, preferem  as salas de bate papo virtuais e que, de tão informais, fizeram-lhes seres impessoais. Sua criatividade, personalidade e intelecto, anteriormente modelados através das atividades lúdicas pessoais e grupais, pelos jogos, pelas histórias infantis que eram contadas pelos pais, pelas brincadeiras em grupo, foram  afetados de tal maneira que as relações afetivas se diluíram no universo informático e da comunicação visual. Raramente vê-se entre eles um indivíduo interrogativo com perfil de pesquisador ou questionador. Em sua maioria são guiados pelos princípios da lógica binária dos zeros e uns. São extremistas em seus posicionamentos intelectuais e, na maioria das vezes apresentam uma ética relativista e individualista. Diante destas evidências, vê-se negado o construcionismo papertiano. Somente a exposição à informação não gera conhecimento independente do instrumento utilizado. A geração do conhecimento só é possível após e através de um  acompanhamento cuidadoso na formação da personalidade e do intelecto na primeira e segunda infâncias e, neste ponto, não se pode substituir o fator humano na formação da personalidade da criança e do adolescente. Os limites da educação moral e ética que permitem a consolidação da personalidade do ser devem permanecer sobre a responsabilidade  e direcionamento humanos, para que somente depois eles sejam expostos gradualmente ao universo da informação.

                Esperamos que a internet continue sendo uma fonte de informação, mas que tenhamos criticidade suficiente para identificar que a formação do indivíduo está muito além da informação a que é exposto.



[1] PIAGET, Jean. Aprendizagem e conhecimento. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1979.

[2] PAPERT, Seymour. Logo: computadores e educação. São Paulo: Brasiliense, 1988.

 

[3] https://pt.wikipedia.org/wiki/Seymour_Papert

 

ARTIGO DE MARCELO DOS SANTOS FERREIRA

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